Literatura

Roda de conversa com o escritor resiliente sobre o seu livro Ecos de Resiliência

 


Moderadora (M): Boa noite a todos, estamos de volta para o nosso talk com os escritores, desta vez sobre o Ecos de Resiliência. Sejam bem-vindos a nossa sala virtual, àqueles que estão entrando pela primeira vez. Aos que já são de casa, sintam-se à vontade; brevemente, a sala será aberta para a sinalização da saudação. Podemos deixar o sinal de que estamos aqui acompanhando a conversa.

Passo agora a apresentar a biografia do autor:

Helton Ubisse, o resiliente é um jovem moçambicano, natural de Zimbene, distrito de Bilene, Gaza. É seminarista e estudante no Seminário São Pio-X, Maputo. Foi membro da Acafil, agremiação do Seminário Filosófico Santo Agostinho da Matola, vocacionada à reflexão de vários aspectos sociais, onde contribuiu com diversos textos para as revistas. Em 2020, juntou-se a um grupo de jovens escritores moçambicanos que fundaram a APEIMOZ (Associação de Pequenos Escritores Moçambicanos) e publicavam vários poéticos textos através das redes sociais. Em Junho de 2020 publicou um opúsculo em formato electrónico que intitulou O Abecedário do meu Tempo. Em 2021 participou, como autor, da Antologia As Melodias do Silêncio, e em 2022 coordenou e participou da Antologia Natalina Sonhos de um Natal, ambas chanceladas pela Editora Ntxuva, e em 2022 lançou em formato físico o Ecos de Resiliência.

Agora, convido o autor para a saudação inicial que será seguida de poesia.

Autor (A): Cordiais saudações a todos e a cada um, onde quer que nos esteja acompanhando e boas-vindas a esta plataforma virtual da Editora Ntxuva. É uma honra ter-vos sempre aqui. Muito obrigado pela presença, apoio e pela amizade. O meu nome é Helton Ubisse, o resiliente. Sou o escrevedor da obra Ecos de Resiliência. Antes de tudo, gostaríamos de endereçar os nossos sentimentos de solidariedade com àqueles que estiveram na via-pública, exercendo a sua cidadania.

M: Obrigada. Agora vamos à entrevista: o que significa Ecos de Resiliência e porquê esse título?

A: Permitam-me responder a esta questão com base no próprio livro e, claro, contextualizando. Ecos de resiliência é uma expressão com duas palavras significativas: Eco – que provém do grego εχό (ekhó) - que literalmente significa repetição de sons devido às ondas sonoras. Pode significar também o que deixa marcas, rastros ou vestígios; e, Resiliência - do latim resilire - significa "voltar". Pode ser entendida como a propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original depois de choque ou deformação. Ou ainda, capacidade de se recuperar das adversidades.

Ecos de resiliência são as marcas, vestígios ou sinais de persistência, superação das adversidades. O livro contém textos que retratam o dia-a-dia dos homens de Moçambique que se desdobram, para manter o brio no seu horizonte, para que o sorriso não abandone os seus rostos e o sol da esperança nunca decline na sua vida. E fazem o mesmo pela vida dos outros. Eu queria um texto simples, curto, que dissesse tudo em poucas palavras e que inspirasse confiança e positividade.

M: Qual é a fonte de inspiração/o que motivou a redacção?

Essa é uma questão recorrente vinda dos leitores e a resposta que dou é sempre a mesma. A minha fonte de inspiração é a leitura, a escuta (diálogo e músicas), a observação e experiência de vida. Para o caso do Ecos de Resiliência, é sobretudo o meio social em que eu estava envolvido aquando da redacção. Eu, e acredito que muito de nós, estava num clima de desânimo e desespero causados pela Pandemia e pela instabilidade política, os ataques no norte do país. Escutava sempre vários lamentos de pessoas próximas e também acompanhava comentários de profetas apocalipsistas anunciando o fim do mundo. Todavia, eu sempre neguei esta ideia, e sempre sabia que alguma coisa tinha que ser feita para fazer as pessoas restaurar a esperança, o ânimo e o sentido da vida.

M: O Ecos de Resiliência tem alguma ligação com a vida do autor?

A: De alguma forma sim. Como se costuma dizer: o homem pensa a partir de onde pisam os seus pés. Quem lê os textos e conhece o autor, facilmente consegue perceber isso. Há rastros de vida e pedaços de alma nos textos.

 

M: Até que ponto é actual e em que é útil para os jovens, sobretudo?

A: Sim, penso que é e continua sempre actual. Por vários motivos, mas sobretudo porque estamos num país em crise. Todo o leitor honesto e atento à realidade, facilmente reconhece que estamos numa vida de crise. Os efeitos de Pandemia ainda continuam fustigando a humanidade a instabilidade ainda não foi superada na sua completude, enfim, estas e outras matérias tratadas no livro como a questão ecológica e caçada humana, são temas candentes e vitais da actualidade e essas situações exigem de nós muita resiliência.

É importante, diversas razões. O Ecos de Resiliência é um livro de um jovem, moçambicano. É assim, nós estamos habituados a ter a interpretação da realidade partindo ou do outro lado, seja em termos geográficos ou em termos de idade; ler um livro de um jovem, do nosso meio - como diz Azagaia numa das músicas: falo em nome do povo, para o povo, porque sou povo - permite que possamos olhar a realidade a partir das nossas lentes, e com uma linguagem nossa.

Porque é um mosaico cultural. Quem lê o livro com atenção percebe a menção de vários filmes e músicas, expressões idiomáticas e ditados de várias línguas. E isso enriquece o nosso background. E também porque a tua biblioteca precisa de mais um livro, precisa do Ecos de Resiliência.

M: Os nomes no livro são todos fictícios?

A: Sim. Meio-fictícios e fictícios. Meio-fictícios são aqueles que manipulei uma e outra palavra. Completamente fictícios são os que levei uma palavra de uma certa língua para adequar à mensagem. Temos por exemplo os textos: mentores da Esperança, Marcas de Resiliência, com os nomes meio-fictícios: Lavínia e Luís Vitalício, Laurel, Shelton. São nomes de meus familiares reelaborados. Mas também temos nomes como Muzamane e Mudjarmane, nomes que existem com certo significado em xichangana, desempenhado pelos personagens no texto. O resto é invenção.

M: Quais foram as dificuldades enfrentadas e como foram superadas, desde a inspiração, redacção, edição...?

A: Tive várias dificuldades, nem sei qual é a maior. Só para ter ideia, - e essa é das partes mais curiosas e memoráveis do livro - quando escrevi os textos, eu não tinha acesso a um computador. Para superar essa dificuldade, escrevia todos os textos num caderno, depois passava para um telemóvel e enviava para os revisores que mais tarde digitavam num computador. Foi terrível. Mas também ajudou para que cada vez que passasse para certo meio melhorasse as ideias.

Outra dificuldade, foi em relação aos recursos financeiros para a edição, impressão e publicação, não tínhamos dinheiro. Mas, graças ao apoio da Editora e de pessoas de boa-vontade conseguimos. Também tive momentos como os de outros escritores, cansaço, esquecimento de ideias.

M: É a primeira obra ou há outras do autor?

A: Sim, desta dimensão, tipo, impressa e através de uma editora. Mas antes, escrevi O abecedário do meu tempo, um opúsculo de seis textos, que não chegou longe, mas serviu muito para medir até onde podia chegar, e participei de As Melodias do silêncio. Aliás, também escrevi ainda em 2020 uns dois romances curtos, um com um seminarista Arestides Caminho ensanguentado, sobre a instabilidade política, mas só publicamos as partes no Facebook; outro, sozinho O destino que não escolhi, um romance de adolescentes que se perdem na vida por erros que pareciam simples, também terminou pelo Facebook.

M. Quanto tempo levou a produção?

A: É difícil precisar. Há alguns textos que faziam parte da colectânea Abecedário do meu tempo e foram escritos anteriormente. E outros mais tarde. Mas, em geral dois anos e dois meses. Um ano e meio de redacção e oito meses para a publicação.

M: Qual é avaliação em relação ao feedback (como o autor se sente)?

A: Bom, eu faço um balanço positivo e sinto-me realizado. Talvez os números não sejam tudo, mas são muito elucidativos. Nós fizemos poucas cópias -desde já confesso que tiramos a versão física pela pressão e insistência dos leitores - por conhecer o nosso mercado que é de baixa procura de livros em formato físico - prefiro dizer baixa compra de livro físico a baixa leitura - e também por ser um escritor iniciante, aventureiro na área literária. Mas, os números surpreenderam-nos quando a requisição iniciou. Recebíamos mensagens de ligações, quase que diariamente de leitores pedindo o livro, de conhecidos desconhecidos, próximos e distantes. Agora a requisição baixou ligeiramente, mas na altura não passava uma semana sem que saíssem dois ou mais livros. Podia ser pior! Mas a reacção como tal é reconfortante.

M: O que te marcou vindo dos seus leitores?

A: A Satisfação! Eu tenho dito que a mim o mais importante não é quantas pessoas compraram ou leram o livro (não que isso não importe). Mas, quantas vidas foram transformadas. E isso se manifestava na satisfação vinda dos leitores que se identificavam com os textos. É motivador escutar: “li o teu livro, tocou-me e fez-me resgatar o sentido da vida”. Afinal de contas, é para isso que escrevemos, para transformar vidas e resgatar o sentido da vida.

M: O que esperar doravante? Uma segunda edição? Outra obra?

A: Futuramente promete-se mais trabalho. A segunda edição certamente está em preparação, em breve, sairá. Ficamos com pouquíssimas cópias e há muitas requisições. Então, em breve vamos anunciar o retorno, com a segunda edição. E também mais obras estão sendo escritas e serão anunciadas.

 

Interacção com os participantes

Público: Gostaria de saber qual poderá ser o motivo mais próximo, a causa mais próxima que criou essa curiosidade, essa necessidade no escritor de ter que elaborar uma obra e intitular Ecos de Resiliência, e gostaria de saber se é que o autor já foi um mini estudo, qual poderá ser o impacto da obra nos seus consumidores e o que se espera deles depois de terem lido?

Autor: Muito obrigado pela questão ilustre Gorila, espero ter entendido e aproximar a resposta à sua expectativa. O meio social em que me encontrava na altura que se caracterizava pelo desespero e pelo desânimo das pessoas. Eu sentia-me frágil e impotente diante do que acontecia, bom, eu não gosto de perder, não gosto de me sentir assim e senti que alguma coisa tinha que ser feita para mudar a situação. Imagina você estar envolvido nesse ambiente, creio que a nossa vida se realiza através de sonhos e expectativas, e quando as pessoas param de sonhar automaticamente estão mortas por dentro, então senti em mim necessidade de reanimá-las e também as profecias que circulavam por aí de anúncio do fim do mundo que para mim pareciam um absurdo, então eu gostaria de mudar essa amizade.

Da reação do publico, a mim me marcava a satisfação das pessoas, talvez que o impacto é a própria resiliência, espero que depois de lê-lo, a pessoa seja mais viva, mais animada, tenha mais motivos para viver, de certa forma escutava isso de leitores que mandavam os seus feedbacks, era essa a intenção, restaurar o sentido da vida.

P: O escritor falou de pouca aquisição (em Moçambique) de livros e foio cauteloso em não concluir que se tratava de pouca leitura. Gostaria de saber, notado esse facto o que tem feito para melhorar?

A: Essa questão de Nunes Cristóvão, é interessante e desafiante, de facto é arriscado afirmar que há pouca leitura, talvez avaliando o nível de consciência,  de exercício de cidadania, desempenho dos jovens, mas há um baixo aquisição de livros, mas em parte escrevendo, eu motivo as pessoas a ler,  faço uma leitura da sociedade e procuro saber o que lhes interessa, por exemplo agora, temos o caso das imagens, nos status se você presta atenção se posta, texto sem imagem há pouca aderência, e procuro levar o rumo da conversa á literatura, por enquanto nas minhas condições é o mínimo que posso fazer, mas planos são vários.

P: Boa noite a todos, em especial à Entrevistadora, à qual felicito pela bela entrevista que nos concedeu, e ao Entrevistado, o renomado escritor Resiliente, Helton Ubisse.

Eu não tenho alguma questão, a entrevistadora roubou-me todas as minhas curiosidades. Eu só queria felicitar o escritor pelo Magnus Opus com que brindou a nossa pérola do Índico e a humanidade no geral.

É uma obra que inspira pessoas de diferentes faixas etárias, por tratar não só de histórias do dia-a-dia dos jovens, como também de adolescentes e dos adultos. 

Estou em crer que cada pessoa que tiver contacto com o livro sairá modificado, tocado e inspirado de alguma forma. E isso é realmente característico nos escritos de Helton Ubisse, não só os textos do livro, como também os textos que costuma escrever nas suas redes sociais, principalmente no WhatsApp, que os intitula "Falas da Tânia".

Para terminar, dizer que não posso esperar pelo nascimento do seu segundo filho, meu caro escritor, o que prometeu agora há pouco. Continue escrevendo, transformando mentes e vidas.

Mesmo que pareça que não faz diferença no mundo, acredite, meu caro, você está deixando suas marcas na areia do tempo e nas linhas da história da humanidade. Portanto, keep on keeping on, dude!

P: Whau. Primeiro devo o meu muito obrigada pela iniciativa,

Quando ouvi a cerca deste debate, fiquei com muitas perguntas que já foram esclarecidas e agora estou sem.

Parabéns mais uma vez ilustre escritor pela inspiração, este livre me comoveu e moveu logo nas primeiras páginas,

Contém palavras muito reais e profundas.

Que Deus te inspire mais.Á moderadora, coragem.


P: Primeiro parabenizar pela obra, segundo saber do escritor, lendo a obra numa das partes o autor descreve um desprezo ou sofrimento, então gostaria de saber se tem a ver com a vida do autor?E qual foi a maior dificuldade que enfrentou ao escrever a obra?

A: Parabéns, você leu o livro, mas o texto é fictício, tem pouca coisa a ver com o leitor, mas é certo que tem certos rastros da vida do autor que quem lê e conhece o autor é capaz de identificar, agora Ecos de uma Alma, é uma a leitura que faço de caçada humana que se fazia sobretudo aos nossos irmãos portadores do albinismo, Cresci numa sociedade preconceituosa acerca do albinismo e eu acompanhava todos aquele drama que eles passavam, e acabei elaborando aquele texto, não senti na pele, mas acompanhei. E também o relato que faço é uma interpretação alargada que inclui o africano em geral.

P: Qual é a sua rotina de escrita? Tem algum ritual antes da escrita, se sim, qual, e se usa mais metas ou inspiração para escrever?

A: Não tenho nenhum ritual para escrever. Sobre metas, deixo mais guiar-me pela inspiração, como disse a minha fonte de inspiração é o diálogo, é o mundo, é a leitura, então sempre que eu leio, por exemplo alguma coisa interessante, ganho inspiração e escrevo sem metas, porque seria desgastante para mim porque quando estabeleço metas faço de tudo para alcança-los.

Sobre o roteiro, a intenção é que me guia, crio estrutura introdução, desenvolvimento e a conclusão, por exemplo, no Ecos tinha uma mensagem por transmitir “Que as coisas ficariam bem” fiz um caminho.

P: Ecos de Resiliência ou marcas de superação, será que é possível ser resiliente só lendo o livro ou é necessário ser de antemão?

A: Eu penso que dentro de nós, há lá já uma potência de resiliência, o que o Ecos de Resiliência faz é despertar essa resiliência, não é por acaso que quando passamos por uma certa adversidade e nós temos o sentido da vida, buscamos o nosso alcance, realizar o nosso propósito.

P: Qual foi a maior dificuldade que enfrentou desde a elaboração dos textos até à publicação do livro?

A: Além de material para a redação, que praticamente nos dias de hoje é muito fácil de superar, houve vários momentos de insegurança, às vezes escrevia e não me sentia convencido do que eu tinha escrito, me perguntava se seria útil para os leitores, é isso que preocupa as pessoas, será que devo publica, será que é a hora para publicar? Entre outras perguntas, mas cedo ou tarde temos que nos arriscar, ousar e prontos.

P: Em que ambiente escreves?

A: Escrevo num ambiente organizado e silencioso, eu acho que esse ambiente ajuda para inspiração, honestamente, antes que tudo existisse, existia o silêncio e se nós queremos voltar a nós mesmos, falar a partir de coração, devemos criar esse ambiente do silêncio. É esse ambiente que para mim é propício para escrever.

M: infelizmente, ainda temos muito por conversar, mas o tempo já nos foge, queríamos pedir que o autor tecesse as últimas considerações antes de encerrarmos a conversa.

A: Para finalizar, nós gostaríamos de agradecer a todos os que são parte do Ecos de Resiliência. Todos que estiveram envolvidos desde o início até agora, todos os que dão asas ao Ecos de Resiliência e a todos os que se fizerem presentes hoje para testemunhar este evento. O Ecos de resiliência, hoje mais do que uma obra é uma marca e um estilo de vida. E vocês tornaram isso possível.

A obra ainda está disponível a 400 meticais, é só contactar o autor ou a editora.

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