Literatura

Roda de conversa com o escritor angolano sobre o seu livro Viver no Desamparo

 


No passado sábado, 04 de Março de 2023, pelas 20h de Moçambique e 19h de Angola, na materialização do projecto TALK COM ESCRITORES houve uma roda de conversa sobre o livro Viver no Desamparo do escritor angolano Francisco Kiasemua, com a moderação da Irzilinda Vicente Pelembe. 

Foi um momento recheado de poesia e conversa com o escritor. Acompanhe a conversa na íntegra:

 

IRZILINDA: Há quanto tempo escreve?

FRANCISCO: Comecei a escrever com 15 anos de idade, começando assim nas músicas do estilo Kuduro, Yap também sou músico, embora já estou há um tempo sem cantar.  E com 18 anos comecei a escrever poesia e outros géneros.

 

I: Viver no desamparo por ser a sua primeira obra e ainda mais em formato digital, como é que a sociedade angolana encarou?

F: Na verdade, deixou muita ansiedade, porque a sociedade esperava um livro físico e por ser digital não teve uma impactação cabal, até agora muitos esperam um livro físico. 

I: Qual foi a motivação para escrever sobre viver no desamparo?

F: Na verdade, muitas, muitas motivações.  E como se não bastasse todo que é escritor escreve um determinado assunto por uma influência, isto é, através do tempo, meio pelo qual está rodeado, sobre o que viveu ou do que vive. No meu caso foi por causa de bons e maus momentos constatados no passado que se vem se multiplicando nos dias actuais para um alto nível.  Não diria um nível crítico, mas um nível abominável numa sociedade, os tais acontecimentos do jeito que se têm tornado, parece que se perdeu a esperança de ultrapassar, ficou no estado de esquecimento, sem proteção, enfim estado de desamparo.  

I: Qual foi o momento mais difícil ao escrever este livro?

F: Confesso que, o primeiro momento mais difícil foi no enquadramento dos poemas com o título, porque é uma mistura de poemas de lamentações, sátiras e até mesmo meditações.  Isso dificultou muito o enquadramento.  O segundo momento foi na atribuição do título do livro, foi difícil porque foi a última coisa a fazer e não foi fácil encontrar um título tendo em conta a diversidade dos poemas.  Tive que analisar três títulos. 

I: Qual achas que é a contribuição do livro para a sociedade actual, levando em conta que és um escritor jovem?

F: Por coincidência da tua pergunta, a resposta já se encontra no livro na página 43 a  45 do poema “Eu tenho” o qual manifesta esperança, fé, força e  Amor, só de citar alguns versos como:

Eu tenho saudades de ter a fé

Tenho esperança de ver toda a gente feliz

Saudades de gritar pelo mundo inteiro

De estar onde não há orgulho e vingança

Ao ler isso, o leitor terá consigo a esperança de que algo que correu mal ontem, pode vir a melhorar hoje ou amanhã. Portanto, além das lamentações também traz para a sociedade temas para meditações, um futuro melhor, cheio de alegria, paz, amor e humanismo. 

I- Elogie sua própria escrita (o que achas sobre os teus escritos?)

F: Embora seja o meu primeiro livro, estaria a pecar se eu dissesse que não gosto do que escrevo, claro que sim, eu gosto e sou o que escrevo, foi sempre meu desejo e sinto-me bem em transformar por escrito aquilo que me faz comichão na mente.

I:  Sendo escritor recente, o que prepara para o futuro, quais são os seus projectos para o futuro?

F: Bem, os leitores esperam de mim muita coisa, garanto isso.  Não só no teor de género lírico, não, mas também narrativo como contos e romances e também em livros de autoajuda. 

 I: Será que este é o seu único livro?

F: Não, mas só publicado porque ainda tenho livros na gaveta a espera do momento certo para serem publicados. 

 

INTERACÇÃO COM O PÚBLICO

Público: Com a publicação do viver no desamparo, conseguiu se colocar no mercado literário angolano e internacional?

F: Boa pergunta, Nunes Cristóvão.  Antes de nós falar aprendemos a balbuciar, antes de andar aprendemos a gatinhar e correr não é mesmo que andar vice-versa.  Tudo que é novo precisa em algum momento para perder está sua novidade é ser achado como um prestígio.  Humildemente falando sou novo, mas ainda não me encadernei na cadeia dos escritores angolanos.  Dependo dos que me lêem, mas garanto que em pouco tempo chegarei e a nível internacional daqui a um ano irei chegar.

P: Para além da motivação que teve ao escrever o seu livro, gostaria que partilhasse que lições tira dele e qual crítica faz da sua construção poética?

F: Na verdade, é bom que saibamos que todo que é escritor é um fingidor, como diz Fernando Pessoa, gostaria que alguém fizesse crítica do meu livro, mas escrevi este tema numa convivência social, a fragilidade, o modo de vida, adulteração, maldade entre familiares, então com o livro compartilho lições de renovação daquilo que anda mal, em como podemos ser pessoas novas entre o bem e para que sejamos diferentes daquele mal que temos visto e constatado.

P: Qual é o poema que mais te marcou?

F: Denilson Dias, são vários, mas já que pediu um, é o intitulado “parece que não somos humanos” encontra-se na página 34 do livro.

I: Tendo lançado o E-book no ano passado, que expectativas tinhas com o lançamento? Conseguiste alcançá-las?

F: Feliz ou infelizmente, às vezes nos dói falar a verdade, mas é mais dolorosa para quem a ouve.  Não atingi as expectativas, mas não de forma maiúsculo, porque a sociedade angolana ainda não está acostumada a ler livros digitais, parecem cansativos por isso não tem este hábito, o que eu pretendia não atingi, até porque esperava que o digital lhes habituassem a ler e duma forma mais rápida publicasse o físico, mas houve pouca aceitação, apenas participação de grandes leitores, aqueles que lêem na escuridão.

 P: Como foi a tua experiência ao trabalhar com a Ntxuva na publicação do teu primeiro livro?

F: Miro, falar de Ntxuva Editora é falar de olhos abertos e voz baixa. Se se tira chapéu para falar com autoridade, eu meteria chapéu para falar com a Ntxuva pela vergonha de tudo, de ajuda que me deram que não conseguiria naquele momento. 

A Ntxuva, parece mentira, é que abriu-me e está abrir a porta para o mundo da escrita.  São todos bons que até perdemos adjectivos para lhes atribuir. 

A primeira experiência, por ser um escritor recente não sabia como se faz livro, como é ter um livro seu feito numa editora, as conversações até que chegue aos mãos do autor. Aprenderei mais com eles, muitas experiências boas.

P: Quais outros títulos tiveste que analisar muito bem para então, permanecer com o Viver no Desamparo?

F: Olá Manuel Domingos, os outros títulos antes de usar o Viver no desamparo foram:

1-As dúvidas foram esquecidas;

2-Não quero mais viver nesta vida.

3-Eu quero ser homem.

P: Qual é a visão geral do livro?  Em que situações pode se aplicar essa visão?

F: Compadre, O tema geral é sobre o modo de convivência social de Angola, o modo de viver até o modo de beber água.  Mas isso é o que eu digo, mas você pode ler o livro e distinguir em qual momento falo desses aspectos na convivência social.

P: Para escrever o livro foi por iniciativa própria ou se inspirou em alguém?

F: Nada vem do nada, eu isso que li no livro o Mundo da Sofia, escrevi começando a ler algumas obras e servia-me de inspiração. E quando fiz o ensino superior líamos livros angolanos e de escritores moçambicanos e fazer resumos, de tanto ler acabei tendo amor pela escrita.  Sou mais por escrever que falar.  Se falo algo e não escrevo acho que não foi bem dito.

P: Gostaria saber do autor se pensa em transformar a obra em suporte físico?

F: Às vezes, meu irmão, nem todos os veículos te levam ao destino ao mesmo tempo, há carros que avariam pelo caminho, mas se o objectivo é chegar no destino existem outros meios para chegar, outras alternativas, sabia que é cansativo, mas é o meio que achei e as minhas condições chegavam até aí. 

Como últimas considerações o autor do Viver no Desamparo disse:

“Primeiro agradeço a Deus, o Pai da nossa existência, segundo a Ntxuva Editora pelo convite para essa ambiência em torno do meu livro, pois, tenho uma enorme quantidade de gratidão e a todos aqueles que deixaram os seus fazeres para acompanhar esta entrevista. O meu muito obrigado!” 

Entrevistado: Francisco Kiasemua

Moderação: Irzilinda Pelembe

Editor: Nunes Cristóvão

Ntxuva editora2023

Comentários

Postagem Anterior Próxima Postagem